eat, pray, love

Não conhecia. Nunca tinha ouvido falar. Não li o livro e nem tão pouco acho piada à Julia Roberts ou ao Javier Bardem. Mas, de facto, muito pouco na nossa vida acontece por acaso. Por mais que nós queiramos achar que sim, sobretudo porque não conseguimos lidar com o que nos escapa e transcende nos 'acasos'. Não tinha de ouvir falar desta história antes. Porque antes não tinha que ser. Antes teria achado o filme interessante. Profundo. Teria achado que era um filme que dava que pensar. Com frases extremamente bem elaboradas. Mas teria certamente sido esquecido meia hora depois. Quando a minha vida divergisse para outro rumo. Pouco mais do que isto seria.

Mas não tinha de ser noutra altura. Teve de ser ontem. Foste tu meu amor, que me falaste neste filme. Disseste-me que o ias ver comigo se eu quisesse. Não te dei tempo para isso. Inconscientemente sabia que não era um filme para ver contigo. Porque tudo se precipitaria muito depressa. E a rapidez não nos ajuda neste momento. A rapidez, a minha ansiedade e os teus receios podem deitar tudo a perder, quando o que precisamos agora é de ter tempo para percebermos tudo o que tão de repente se passou entre nós.

No entanto, não foi essa apenas a coincidência. Foi tudo o resto. O que a personagem pensa. Sente. Faz. O que ela escreve. Até o facto de ser escritora. A descoberta de que há mais mundo para além das nossas paredes pequeninas. Que podemos querer mais da vida, sem que o outros entendam porquê. Que de facto há muito poucas pessoas com coragem para irem atrás desse desconhecido, porque a grande maioria prefere esconder-se atrás da sua cobardia e ir adiando a vida de dia para dia.

Eu, que não sou nada impressionável, dei comigo a chorar. E a chorar. E a chorar. Porque é isto mesmo. Porque era tudo aquilo mesmo. Para muitos talvez tenha sido um filme maravilhoso de uma mulher corajosa, com paisagens deslumbrantes. Mas para mim é muito mais do que isso. É todo um mundo mais do que isso. Cada palavra, cada frase. Que se aplica e encaixa com uma lucidez e uma precisão assustadoras.

O mais mais difícil é começar. Mas quando se começa, não se volta atrás. A minha decisão estava tomada. Ficou tomada no dia que o meu pai morreu. Tudo o resto que se sucedeu foi uma cadência, agora para mim perfeitamente racional, para chegar aqui. E aqui estou.