A A. é uma pessoa fantástica. Uma mulher com 'M' grande a quem a vida nem sempre tem sido muito generosa. E não há pessoa como ela a conseguir andar para a frente. A dar a volta. É humana e real. É de carne e osso. E de nervos. E de muitos choros e inquietações. Mas é daquelas pessoas com uma tenacidade imensa na vida e uma beleza quase desmesurável. Beleza em tudo o que faz. Por muito que ela própria não o acredite.
Conheci a A. há uns anos. Trabalhámos na mesma empresa. Eu ainda cá estou. Ela foi despedida. Muito injustamente, numa redução completamente absurda de cargos. Fez a sua travessia do deserto, de trabalho temporário em trabalho temporário, com dois filhos e muitas complicações familiares acrescidas. Mas andou para a frente. Sempre para a frente.
Hoje voltámos a estar juntas. Tomámos o pequeno-almoço. Vi-a entrar com um brilho imenso no olhar e só aí me apercebi o quanto ela me faz falta. As saudades que tenho dela. Das nossas conversas. Dos nossos cafés. Dos nossos lanches. Das nossas pancadas adolescentes pelo Robbie Williams. De choros e risos e tudo o mais. A A. está muito feliz no novo emprego que tem agora - que nada tem a ver com o anterior. De revisora de revistas passou a assistente de produção de televisão. Eu não podia ter ficado mais feliz por ela. E, com a sua clarividência, disse em três segundos o que lhe ia na alma. E não poderia ter dito melhor.
"Há quem ache que estou deslumbrada. Não estou. Sinto-me bem porque muitas pessoas torceram por mim e sou muito acarinhada naquilo que faço agora. E é isso que me faz feliz. A minha vida é fora do trabalho. É a minha família. Eles é que são importantes. No trabalho mudei de estratégia: para quê fazer o que se estudou se ninguém retribui? É a ler textos de jornalistas que me sinto realizada? É isso que nos dá satisfação na vida? A mim não. A mim dá-me satisfação ser acarinhada. E é isso que sou agora."
É por estas e por outras que continuo a acreditar que as injustiças da vida são compensadas se nós nos esforçarmos. Chamem-me lá ingénua, mas continuo. E a A. é a prova disso.
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