Ontem li algures: às vezes cansamo-nos de ser corajosos e precisamos que nos peguem ao colo. E tu tens pegado meu querido L. De forma incansável. Dia e noite. Com as tuas mensagens que não me deixam ir abaixo e me obrigam a ir buscar os sonhos que teimo em guardar na gaveta. Incansável quando me dizes que não tenho que ser igual ao mundo lá fora. Que não posso desistir nunca, por mais que às vezes me apeteça. Que aquilo que quero um dia vai aparecer, por muito que tu queiras o mesmo e não acredites que consigas encontrar. Dizes-me que é a sorrir que tudo se consegue. Vejo-te sorrir há tanto tempo sem conseguires o que queres. Não sei porque é que as coisas têm de ser assim, mas são.
Ou melhor sei. Sei sim. Tenho de parar de dizer que fiz tudo certinho e tal e ainda assim continuo sozinha. Não fiz tudo certinho não. Bichos do mato, mal dispostos e brutos não atraem ninguém. Porque os outros não têm culpa dos nossos problemas. Essa é que é a grande verdade. Foi esse o grande erro que cometi. Tornei-me mestre na arte de afastar os outros como forma de defesa. E o que é que eu ganhei? Mudei no conteúdo, mas não na forma de lidar com o mundo. E de repente criou-se um vazio que foi insuflando e insuflando e que a semana passada rebentou. E que quase me fez desistir de tudo. Mas tu ouviste-me naquela noite. Ouviste tudo o que eu chorei. Ouviste o que nunca tinha dito a ninguém. A ninguém. Disseste-me que me batias se eu voltasse a repetir o que tinha dito. E na manhã seguinte ligaste-me, preocupado. Estava eu a tentar esconder os olhos inchados com os milagres da maquilhagem e tu estavas do outro lado da linha a querer saber de mim.
Já pensei tudo o que tinha a pensar, por mas prosaico que possa soar. Os últimos dois dias fizeram-me milagres à alma. Como não acho que o mundo esteja contra mim, sou rápida a identificar os meus erros. Vi até onde era capaz de ir e onde tenho que me obrigar a ir - e irei. Chega de ser mal disposta. Bruta. Agressiva. Chega. Chega. Chega. Não sou assim por dentro, porque insisto em sê-lo por fora? E não mais aturarei quem o seja para mim, nem sob a desculpa de que descarregamos nos mais próximos as nossas tristezas e angústias. Acabou-se. A I. já me tinha avisado vezes sem conta, mas só quando o sentimos na pele é que avançamos.
Tudo aquilo por que eu lutei na vida, consegui. Por muito que isso possa enervar pessoas que me são muito próximas. E isto será apenas mais uma etapa. Há coisas que não se agradecem, por isso já sabem que não te direi obrigada. Tu tens a importância que tens e sempre terás, querido L. E isso eu não te escondo nunca.
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