terça-feira, 31 de agosto de 2010

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(sobre 'Os Íntimos', da Inês Pedrosa)

O que fazer quando se gosta de um livro que outra pessoa não gostou? Outra pessoa que nos é próxima. Que compensa a falta de profundadidade com um sentido estético apurado, mas nada mais. E quando nos bastam duas, três, dez páginas lidas, e não mais, para querermos chegar ao fim sem parar? Porque se percebe tudo o que está lá escrito e o muito mais que não está. Porque se lê naquelas linhas histórias e pedaços de pessoas de uma vida que é nossa. No mais profundo do nosso ser. Que perde a realidade ao ser confessável. Que é demasiado bruto, brutal, às vezes violento para ser contado como conversa de entretenimento.
O que fazer quando sabemos que a pergunta vai surgir? Quando as páginas começam a escassear e paira a sombra do 'então gostaste'? Mentir é sempre uma opção. Dizer a verdade também. Mas dizer a verdade dói mais. Dói mais porque é muito mais do que um sim ou um não. É um juízo de valor. É sempre um juízo de valor superior. Sim gostei. Mas também sei porque é que tu não gostaste do livrio. E não me peças para te explicar. Não chegaste lá. Não alcançaste. Sempre viveste dentro da tua redoma, a olhar para a realidade dos outros como pura ficção. E se eu te dissesse que mesmo eu, que te sou tão próxima, tenho realidades em mim que tu nunca acreditarias?
Não, não é a autora que está a passar por uma fase pseudo-intelectual. É apenas um livro que não é para ti. Porque tu lês letras. Eu consigo juntar sentidos de palavras.

(... lembro-me das conversas com ele. Quando me dizia que eras limitada. Não me chocava a realidade da confissão mas a resignação dele em não ter procurado uma pessoa à altura. Agora que a vida me aproximou mais de ti fico constrangida com estes pedaços de coisas que se passaram e se disseram. Porque não são as tuas limitações que limitam a pessoa que tu és. E eu estou a aprender isso agora.)

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