segunda-feira, 13 de setembro de 2010

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Eu disse-lhe que queria mudar. Contei-lhe. Disse-lhe que queria parar. Que já tinha chegado ao topo dos meus objectivos. Que aprendi que quero mais na vida. Que é fácil ser feliz com pouco. Que quero esse pouco, porque é o que é de facto importante. Disse-lhe que já não encontrava motivos para não pôr um travão na vida. Para não mudar de rumo. Para não ser aquilo que quero ser. Para não seguir aquilo que vai cá dentro. Sem me importar com os outros.

Falei-lhe do vazio que se instalou no meu coração. De como me vai gelando por dentro. Da necessidade premente de dar. De dar o que quer que seja. A quem quer que seja. De saber que se calhar um bocadinho do que é meu pode fazer outra pessoa mais feliz. Porque o mundo não muda e continua a girar, como sempre, todos os dias. Mas o meu mundo pode mudar um bocadinho. Precisa de mudar. E se antes eu não sabia o que queria, agora sei. Não é a coragem que me falta; é esgotar os segundos, os minutos e as horas que restam a dar ao universo uma oportunidade de me manter no meu rumo. Senão eu vou. E mudo.

Em dez anos cheguei do zero onde queria. Passei da universidade à televisão e ao melhor jornal do país. A minha vida passa agora por outros rumos.  O importante era conseguir cá chegar. Não mais do que isso. Agora haverá certamente outros caminhos. Passará sempre pela escrita, porque essa está-me entranhada no sangue tanto quanto eu por vezes não queira. Mas passa por um mundo mais além que nunca conheci. Que nunca me dei a conhecer. E agora quero. Porque o meu pai me disse um dia que chega um momento em que pode ser tarde demais. E eu não quero chegar a esse tarde demais com lágrimas amargas do que deixei por fazer.

E o M. ouviu-me. E acreditou. Não duvidou. Não me tentou demover. Não achou que era um devaneio de mimo. Contou-me como mudou também. Da importância dos tudos e dos nadas. E como aprendeu, lá longe, em África, que é tão fácil fazer uma pessoa feliz. Explicou-me como, quando se sente em baixo, cansado e stressado, vai ao mercado meter-se com as vendedoras. E contou-me como elas se derretem. E como basta este tão pouco dos outros para lhe dar a ele outro significado à vida.

Não esperei ouvi-lo. Sempre o soube assim - ah meu querido, não fosses tu fazer charme às vendedoras, que há coisas que nunca mudam, brinquei eu - mas não sabia que estava a falar com uma pessoa que pensa o mesmo que eu. Na mesma sintonia. Nunca duvidei que ele é das melhores pessoas que eu conheço, nem mesmo quando me roía de ciúmes por tudo e por nada.

Ele quer que eu vá conhecer o mundo dele. E eu vou. Dia 19 de Novembro,vou.

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