terça-feira, 14 de setembro de 2010

a semelhança de três palavras


Eu vou tentar, mas não prometo que consiga. Há feridas ainda demasiado abertas. Coincidências que me magoam como bofetadas duras. Mas vou tentar. Não perguntes porquê, mas sinto que o faço um bocadinho por ti. Sempre por ti, como foi e será. Só de olhar para a capa desato logo a chorar, mas não é isso que me incomoda. É a semelhança das palavras. Porque as ouvi antes de ti. Da tua boca. Do mais fundo do teu querer, quando já a esperança se tinha ido. A angústia do que ficou por fazer que só quem está perto do fim sabe.
A tua morte pai, mudou-me a vida e mudou-me enquanto pessoa. Talvez seja isso o menos mal de tudo: eu não seria quem sou, disposta a fazer por mim e pelos outros, se não tivesse vivido tudo os dias, durante dois anos, o teu sofrimento. Se não tivesse visto os teus olhos de súplica a veres o tempo a escorrer-te pelos dedos já sem que a vontade to deixasse agarrar. Porque não havia nada a fazer. Foi uma frase que te ouvi. Aproveita a vida. Disseste-ma numa cama de hospital, a chorar. É a ela que me agarro hoje e sempre. Mesmo quando estou mais em baixo nunca me esqueço dela. Porque esquecer-me dela, seria esquecer-me de ti. E de tudo o que nós os dois passámos juntos. De todas as horas passadas - não perdidas - no corredor daquele hospital.
Há coisas em que vamos ser sempre nós os dois. E não é por tu agora não estares que eu vou desistir. Vou continuar sempre contigo. A falar. A chorar. A rir. A partilhar. Um dia mais tarde, algures, em algum lado, hei-de te poder abraçar outra vez e rirmo-nos disso. Até lá, eu vou fazer o que tu me pediste, ou me mandaste, aproveitar a vida.

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