quarta-feira, 21 de março de 2012

dois


A distância não é fácil. Mas há dificuldades que se conhecem em teoria. E outras que se vivem na prática de todos os dias. Que se sentem na pele e no que vai cá dentro. A distância aproxima e afasta, simultaneamente. Leva-nos a um esforço contante para estarmos mais perto do outro, como que a tentar enganar o oceano que nos separa. Mas também afasta pelas dúvidas que cria, pelas incertezas que levanta, pelo receio, por trazer sempre os nervos à flor da pele, pelo desejo cada vez mais premente de a fazer desaparecer. Se ninguém está garantido a dormir do outro lado da mesma cama, muito menos está com cinco mil milhas de separação. Não é fácil não sentir o toque e o cheiro. Viver a ouvir aquela voz que tanto se quer através de um telefone.

Mas no final: quando duas pessoas querem, conseguem. E acaba por ser apenas isso que importa. Por muito doloroso que seja, encontra-se sempre forma de ir vivendo os dias (que parecem anos inteiros), de alimentar sonhos, de continuar projectos. Manter uma relação à distância não é fácil - e só é gerível quando há uma temporalidade definida e um 'viveram felizes para sempre', um (literalemente) ao lado do outro, no horizonte. É um desafio que fortalece, que aproxima, que cria solidez. Não é garante de nada, a não ser da vontade humana. E de como esta nos continua, todos os dias, felizmente, a surpreender.

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