quinta-feira, 4 de setembro de 2014

sobre a Nonô

(ou sobre a puta da injustiça de vida - e sim, agora posso escrever asneiras, daquelas bem feias e cabeludas, porque há poucos temas mais tristes que uma criança ter de lutar e morrer com um cancro!)

Não tenho palavras. Não a conhecia pessoalmente. Conhecia quem conhecia. Não há muito a dizer. Aliás, não há nada a dizer. Dizer para quê? Para quê? O cancro choca-me. Alguém sofrer com um cancro toca-me profundamente porque perdi um pai assim. Mas abrir o Facebook e perceber que uma criança, com cinco anos, perdeu uma luta titânica contra esta doença inqualificável, deixou-me num silêncio duro. De gelo. Cinco anos. Com as lágrimas a escorrerem-me. Com um filho de meses a dormir junto a mim e a olhá-lo placidamente. A ti nunca te vai acontecer, meu amor. Vou desejar o mais ardentemente que nunca aconteça. Vou fazer tudo por isso. Mas a verdade é que não está nas minhas mãos. Cinco anos. Como não esteve nas mãos da mãe da Nôno. Que não conheço. Mas muito admiro. O céu ganhou uma estrela especial. Ganhou? Sabe Deus a que custo. E o sofrimento de tudo. Que não se mede. Que corrói. Que desgasta. Que nos deixa lívidos. Como é que uma criança com cinco anos é um exemplo de luta e coragem?! Não é suposto. É suposto viver em pleno a sua inocência. Usufruir ainda o que a vida tem de bom para lhe dar. De puro. Continuo sem palavras. Acho que nem as quero ter. Preferia que a Leonor fosse apenas uma menina inocente, desconhecida, com as suas birras e sorrisos de criança. Não um exemplo que nos dói, a nós adultos. O que não faltam são estrelas no céu. Não precisamos de mais. Pelo menos não destas.