quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Visita do P.


Chegou como quem não quer a coisa. Já nem estava à espera que viesse. A conversa não foi fácil. Não somos amigos e acho que nunca seremos, mas isso também não é importante. Nada mesmo. Não é isso que nos junta. A conversa de circunstância durou dez minutos. Dez longos minutos. Dez minutos demais porque não há circunstâncias entre nós. Até que o P. se decidiu. Calou o que eu estava a dizer com um beijo daqueles. Daqueles que só ele dá. Daqueles que são nem mais nem menos o motivo pelo qual nos damos tão bem na cama. Por muito que nos tentássemos enganar era para isso que ele tinha vindo. Não era para me contar da vida. Nem do trabalho. Nem dos amigos. Nem dela. Era para pôr um ponto final no que há muito tempo falta terminar. E um ponto final entre nós só pode ser mesmo posto da maneira em que sempre nos demos bem: a fazer amor. Fora da cama sempre fomos um fiasco. Na cama nem fogo de artifício era suficiente para nos igualar.Espantoso é como a nossa memória regista o que gostamos. Lembro-me do toque. Da intensidade. Do sabor. Do cheiro. Lembro-me do sorriso sacana dele. Que continua. Como quem diz ‘Tenho-te aqui outra vez’. Antes tinhas porque eu era tonta. Agora só tens porque eu quero. O jogo passou a ser entre iguais. Pode ser que assim não acabe tão mal. E a noite terminou com uma mensagem. “Não tens de pedir desculpa por teres ido embora. Eu sei que voltas para acabar o que começaste.”

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