sexta-feira, 20 de agosto de 2010

donas de casa desesperadas (e muito parvas!)

Pior do que saber que uma amiga casou, já com trinta e muitos anos, com um homem que não era o da vida dela (mas foi o que se arranjou, sem grandes defeitos e contrariedades) por pressão familiar, é vê-la, poucos meses depois de casada, de nariz empinado em riste, armada em dona de casa desesperada, a criticar o casamento de outro casal, de longe muito mais apaixonado, tentando encapotar ressabiamento sob a forma de conhecimento de vida.

Eu, que sou a eterna tola que acredita em princípes encantados e casamentos para sempre, mas que também não crítica escolhas e decisões alheias porque 'cada um sabe de si' e 'deus sabe de todos', fiquei de boca aberta, siderada, a achar que ela só podia estar de facto a brincar. Pois que não estava. E eu, que ainda sou mais tonta ainda, fiquei triste por ela. Triste pela figura que estava a fazer. Triste porque não assume o que escolheu para si. Triste porque nem a própria se apercebe do ridículo que inspira nos outros.

O casamento é, já de si, um tema complicado. E quanto mais a idade passa, mais complexo se torna. Tenho para mim que, cada pessoa vive a vida que escolheu para si, e ninguém tem direito a opinar. Tenho dificuldade em perceber as pessoas que mudam quando casam - ah espera lá que agora é trezentas vezes mais importante que eu só porque usa uma aliança de ouro no dedo... pese o facto de não ter sido o homem da vida dela a colocar-lha - , que olham para os outros com comiseração e começam a achar que os solteiros são uns perdidos para a vida que deveriam ser encarcerados em masmorras e torturados dias a fim - 'se não conheces ninguém interesse é porque trabalhas demais, mas olha que não é isso que te vai trazer felicidade para sempre' - e que acham que o máximo é fazer programas sempre a dois (a meu ver absolutamente naturais, pois já que perderam a identidade própria também não têm capacidade para aprender por si mesmos, enquanto seres independentes).

Tudo isto é complicado para mim, mas pronto, vá, todos somos diferentes. Agora que olhem para a felicidade alheia, para aquelas pessoas que realmente estão apaixonadas, que querem casar, que vão casar, que importa lá se dura um ano ou a vida toda porque, no momento em que dizem 'sim', fazem-no de coração, é que me ultrapassa completamente.

Não posso nunca dizer que 'desta água não beberei', mas se um dia me casar porque achar que está na altura, com um homem que não seja o certo mas o que se arranjou, duas coisas posso garantir: que não vou desprezar os amigos que continuarem sozinhos à procura da sua felicidade e que não vou desdenhar de quem conseguiu aquilo a que a vida, eventualmente, não me tenha reservado a mim. Quem faz escolhas tem que as assumir - e desprezar os outros que fizeram opções diferentes não só é triste, como pequenino de espírito.

Já sei que haverá quem me diga que desta amiga em questão não se esperava outra coisa. Pois, eu cá esperava. É que assim como acredito em casamentos para a vida, também acredito sempre no melhor das pessoas. E não há desilusão que até agora me tenha mudado.

(Quase fui cruxificada em público por não ter ninguém, fazer o que gosto e não me deitar à cama a chorar por ter 31 anos e ser optimista com a vida, pese as pressões familiares. E não sabe ela ainda que pus um ponto final num namoro com o homem da vida dela, esse sim que não a quis, que começou precisamente do dia do seu casamento. Aí não me pregava só à tábua com pregos afiados, tirava-me primeiro o coração com uma colher. Estive quase quase a contar-lhe, mas depois achei que era melhor não.)

Sem comentários:

Enviar um comentário

fatias