quinta-feira, 11 de setembro de 2014

dores de crescimento

Ser mãe é, de facto, uma viagem de descoberta extraordinária. A maior e mais profunda que podemos ter na vida. A que mais nos enriquece. Nos faz descobrir novos sentimentos. Novas pessoas dentro de nós. E dentro daquele ser absolutamente maravilhoso que nasceu de nós.

Mas é também uma viagem tortuosa deixar um filho crescer. Perceber que não lhe podemos satisfazer sempre o sorriso e a vontade. Que, para o bem dele, há que o deixar ir, ajudá-lo nesse caminho, ampará-lo mas, deixá-lo ir sozinho. Porque um dia também fomos, quando crianças, e isso só nos fez bem.

Gosto que o meu filho cresça comigo, mas sobretudo com o sorriso aberto que mostra aos outros. Com os braços que dá, genuinamente, para que lhe peguem e descobrir outras pessoas. Novas brincadeiras. Que descubra o mundo infindável que o rodeia, em todas as suas tonalidades. Que aprenda, desde cedo, a lidar com diversos estados de espírito e sentimentos.

E foi esta facilidade com que se relaciona com o que o rodeia que me encheu de certezas vãs, que ontem se desmoronaram em meio segundo. No primeiro dia de creche. Um choro de abandono que nunca lhe tinha ouvido, por entre os mil choros que lhe reconheço sem ter de lhe ver a expressão. Uma irracionalidade apoderou-se de mim e só me apeteceu apertá-lo junto a mim: não, não, não, achas que eu te abandonava? Nunca. Morria antes disso. É só uma nova fase, da tua ainda curta vida, que tenho a certeza que vais adorar, apesar de hoje tudo te ser estranho.

Custou-lhe a ele e custou-me a mim. Que o fiquei a ouvir, sem que me visse, a tentar não entrar sala dentro, pegar nele e levá-lo de volta comigo para casa. Não. Não pode ser. Com o passar das horas os sentimentos acalmaram. A ansiedade amainou. Mas a descoberta do dia ainda agora me incomoda. O desespero dele. Genuíno. Era algo a que nunca tinha assistido.

Mas ser mãe é isto também. Deixá-lo crescer. Mesmo ele não vendo que eu estou logo ali ao lado para o agarrar, caso a queda deixe mais que uns meros arranhões sem memória. E isso, às vezes, dói.