quinta-feira, 26 de agosto de 2010

ter ou não ter alguém (para viajar), eis a questão


Cada vez mais me apercebo que os problemas de uns tantos, se calhar são os problemas de muitos. O que não peca pela falta de lógica mas talvez por pouca coerência. E de quem é a culpa? Nossa. Com 31 anos, um emprego estável e uma situação financeira confortável (sim, eu bem sei que se não cometer excessos é assim mesmo que ela é), o meu maior problema são as férias. O que fazer nas férias? Onde ir nas férias? Portugal é demasiado pequeno e há muito mundo por conhecer. Muito mundo que quero conhecer. Que vou conhecer. Não me faltam amigos, faltam-me sim pessoas com disponibilidade (familiar e financeira) para me acompanharem. A realidade é mesmo esta: ou têm namorados e maridos e filhos e encargos que não me passam pela cabeça ou são solteiros e cheios de vontade, mas não têm dinheiro para isso.
Este dilema não é de hoje. Já se arrasta há uns bons anos, sem grandes soluções à vista. Gosto de estar sozinha, de ter os meus espaços e os meus silêncios, de apreciar os meus prazeres ao meu ritmo sem grande margem para cedências, por isso não me importo de ir sozinha. Já tem acontecido. Faz-nos bem à alma. Obriga-nos a pensar em nós. No mais íntimo de nós que por vezes se desvanece nas rotinas de todos os dias, mas que continua sempre cá, porque não se apaga. Gosto de tomar o pequeno-almoço enquanto ponho a leitura em dia, não me importo de ver museus e galerias sozinha e até agradeço não ter ninguém atrás de mim enquanto ando nas compras. Perco as fotos - as muitas onde podia estar e que acabam por se transformar em muito poucas, pedidas a quem passa - e os bons jantares em restaurantes melhores ainda - que quem me conhece sabe que A-D-O-R-O e não há nada a fazer.
Mas isto sou eu. Ou achava eu que era eu. Porque nos últimos tempos, e em conversas profundamente casuais, é exactamente o que oiço de amigos e conhecidos. 'Não viajo porque não tenho companhia'. Então espera lá: mas anda meio mundo a padecer do mesmo mal? Então porque é que esse meio mundo não se junta com o outro?
Mea culpa, admito. Não é assunto de que fale tão abertamente como isso e quem perde sou eu. Porque descobri - e mais uma vez confirmei, hoje, ao almoço - que somos alguns na mesma situação. Mais do que eu imaginava. O que tem lógica mas não deixa de ser incongruente: afinal tenho eu (e têm eles) outras pessoas com quem viajar e conhecer esse tal mundo por aí. Se calhar basta falar nisso. Dá que pensar.

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